A história da mulher-comum, por Anne - Resenha: "A Senhora de Wildfell Hall"
- Raposa
- 22 de jul. de 2018
- 4 min de leitura
Antes de tudo, já devo informar que este livro ganhou meu coração e se tornou um dos meus preferidos da vida. Uma incrível história sobre amor, mulher e machismo, assustadoramente atual, "A Senhora de Wildfell Hall", de Anne Brontë, merece tanto reconhecimento quanto qualquer outro livro de suas irmãs, Charlotte e Emily Brontë.

A narrativa é doce e a escrita em cartas te prende no primeiro instante. Lançado em 1848, o livro recebeu muitas críticas por tratar, sem escrúpulos, de relacionamentos abusivos e machismo em uma época ainda muito conservadora. Anne recebe tantas injúrias que, na segunda publicação da obra, fez um prefácio no qual ela comentava que o livro foi escrito não apenas para entreter, mas para fazer o leitor pensar: "Meu desejo era relatar a verdade, pois a verdade sempre comunica sua própria moral para quem é capaz de absorvê-la".
A história criada por Anne, era uma pura e completa crítica a sociedade, e a situação da mulher nesta.
O livro consiste em cartas do senhor Gilbert Markham para seu amigo Jack Halford, datadas de 1847, mas a história que ele contará se inicia mais de 20 anos antes, no pequeno condado de Linden-Car. Nas cartas ele conta sobre a aparição de uma moça nova na cidade, ela se tornara inquilina de uma bela mansão chamada Wildfell Hall, a qual era, apesar de antiga, muito bela e imponente. Markham conta como sua chegada repentina havia causado grande alvoroço na pequena cidade, a mulher, sra. Graham, era recém viúva e parecia não querer ter muitas relações com os outros habitantes da cidade, permecendo com seu filho, Arthur, na grande mansão todo o tempo.
Todos da cidadela acham a sra. Graham muito estranha, extremamente reservada, ela não interagia com seus vizinhos, não gostava de comparecer à festas e até mesmo a igreja era evitada pela moça. Apesar disso, conforme os meses passavam, sr. Markham construiu uma afeição por ela e pelo seu filho, após ver que eram pessoas boas e que a sra. Graham, além de muito bonita, era encantadora. Ele lhe admite a paixão que sentia, admite que a amava profundamente mas a sra. Graham dissera que não o concederia esta paixão por motivos religiosos, Markham aceita e eles permanecem apenas grandes amigos.
Até o dia em que sra. Graham "cai na boca do povo", as pessoas dizem que há algo de estranho nela e suspeitam que ela tenha um caso amoroso com o dono da mansão em que é inquilina, o sr. Lawrence. Desacreditado e cheio de amor, Markham vai até Wildfell Hall para conversar com a sra. Graham sobre os absurdos que estão sendo espalhados. Após uma conversa ele sai e fica aos arbustos da mansão admirando a moça, quando a vê conversando com ninguém mais ninguém menos que o sr. Lawrence. Em um súbito de ódio, admitindo que a moça o enganara, sr. Markham para de vê-la, e assim permanece por semanas. A situação muda quando, não aguentando mais o sumiço do amigo-amante, sra. Graham lhe confia seu diário pessoal, lhe afirmando que todas as explicações que precisa estarão dentro dele.
Nesse ponto tudo muda, começa a segunda história do livro, o diário de Helen, a menina que viria a ser a sra. Graham. Ela conta toda sua trajetória romântica em busca de um casamento, mais que isso, um homem que a amasse. Ao viver com os tios foi recomendada, diversas vezes, pela tia que se casasse quando tivesse certeza do pretendente, não que corresse ao primeiro que lhe fizesse juras ao pé do ouvido. Helen tinha certeza de que honraria sua tia.
Até o dia em que ela conhece sr. Huntingdon, um rapaz esperto e apaixonante que rouba o coração da jovem moça, ela segue seu coração e não ouve ninguém, nem mesmo a tia que acreditava que o sr. Huntingdon não era tão bom quanto parecia. Mas não havia nada que pudesse impedí-la, Helen se casa com Arthur (sr. Huntingdon), apesar desses que pareciam ser pequenos problemas.
Logo no primeiro ano de casamento do sr. e da sra. Huntingdon, Helen percebe que não foi uma escolha tão boa assim, Arthur tinha dois vícios, bebida e algazarras. E, mesmo sendo o primeiro ano deles juntos, seu marido a deixa por meses a fio, enquanto está em Londres, "resolvendo negócios", com seus amigos. Com o passar do tempo, Helen percebe que se afundou num relacionamento sem saída, com um marido mulherengo, bebedor e pecador, logo para ela, tão devota a Deus. O tempo passa e Helen não sabe como resolver a situação, e nada melhora após do nascimento do filho, o pequeno Arthur.
O relacionamento dos dois se deterioriza, o marido abusa dela física e mentalmente, ao ponto de a humilhar publicamente e a proibir de ir embora e deixar o lar dos infernos em que os dois viviam. Helen faz de tudo para tirar os vícios de Arthur e reconstruir laços amorosos, sem grande sucesso.

A situação se complica cada dia mais, Arthur se torna violento e indiferente com a esposa, além de se esforçar para criar um filho tão porco quanto ele dando-lhe, inclusive, bebidas alcoólicas precocemente, para que se tornasse o machão que ele era e a mãe tanto repudiava. Helen não vê saída, não vê esperança, não sabe mais o que recorrer para salvar ela e, principalmente, o filho desse caos.
O livro é simplesmente incrível, é quase impossível parar de ler, cada página é um choque, parece ser impossível que a situação de Helen piore. O diário toma a maior parte do livro, ao ponto que o leitor pode até chegar a esquecer a historinha inicial do sr. Markham. É um livro extremamente atual e trata de temas muito interessantes, entre eles, abuso psicológico entre marido e mulher, a questão da mulher naquela sociedade, questões matrimoniais, de criação de crianças, etc.
Este causou muito rebuliço quando saiu e com razão, mostra como nós mulheres estamos presas a muitos padrões sociais e como é difícil se desvencilhar deles, mostra a posição feminina, a diversos aspectos, em uma sociedade machista e opressora para com elas.
Enfim, um prato cheio, ele se tornou sim um dos meus queridinhos da vida e, para mim, este é um livro importantíssimo, eu nem sei como não tem filme, também, não sei como a Anne é a irmã menos conhecida das irmãs Brontë.
Caso estivesse com dúvida em relação ao livro, espero que não reste nenhuma, ESPETACULAR. Nada que escrevi aqui se compara com a importância e a magnitude deste. Indico a leitura, não vai se arrepender! (prometo)
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