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Sobre "Lolita"

  • Foto do escritor: Raposa
    Raposa
  • 6 de out. de 2019
  • 8 min de leitura

Já aviso de antemão, isto não é uma resenha. Estou há muito para escrever esse texto sobre "Lolita", de Vladimir Nabokov, não apenas por ser um livro complicado, de difícil leitura, mas por estar vivendo muitas coisas na minha vida que falarei mais sobre em outro post. Eu comecei a ler "Lolita" em julho de 2018, e acabei em julho de 2019... Foi um ano de poucas leituras para mim, o que me faz admitir, desde aqui, que terei de reler Lolita novamente no futuro, com mais amadurecimento literário para que eu consiga compreender todas as suas miudezas que não consegui à primeira, no livro há muitas passagens em latim, francês, etc...

Primeiramente, acredito que muitos já sabem sobre o que o livro se trata, é a história, narrada como em diário, de um estuprador, Humbert Humbert, e sua obsessão por uma menina chamada Dolores. O livro já se inicia com uma frase muito famosa que, mesmo antes de ler, eu já tinha ouvido falar sobre ela:


“Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha alma, meu pecado. Lo-li-ta: a ponta da língua toca em três pontos consecutivos do palato para encostar, ao três, nos dentes. Lo. Li. Ta. Pela manhã, um metro e trinta e dois a espichar dos soquetes; era Lo, apenas Lo. De calças práticas, era Lola. Na escola, era Dolly. Era Dolores na linha pontilhada onde assinava o nome. Mas nos meus braços era sempre Lolita.”

Neste ponto, tenho que elogiar o autor Vladimir Nabokov, apesar de russo, ele possuía um inglês muito afiado, e rebuscado, a forma com que ele escreveu a obra "Lolita" é profundamente bela, mas tão profundamente bela, que pode nos fazer esquecer o cerne da questão, o assunto ele trata. Ao meu ver, é nessa escrita magnífica que muitos leitores se perdem e acreditam, piamente, que Lolita possa ser uma história de amor - jamais poderia.


O livro se trata das cartas que Humbert Humbert, o nosso personagem principal, escreve ao juiz que irá julgar seu caso, do qual não sabemos o crime cometido. E, desde o início, sabemos que todos retratados nestas páginas estão mortos, uma exigência do personagem, Humbert, para que fossem publicadas. Ou seja, aqui já temos um ponto importante a notar, não podemos confiar cegamente em um narrador-personagem, pois veja, ele nos contará apenas o que lhe interessa, ainda mais se considerarmos que essas cartas seriam lidas pelo juiz que julgaria seu caso. Um outro exemplo de narrador não-confiável que já resenhei aqui no blog é "Dom Casmurro".

No início, Humbert já começa a falar de sua loucura, Lolita, mas já nos antecipa a história de outras “ninfetas” com as quais ele se apaixonou, desde sua adolescência. Ele descreve, minuciosamente sobre as ninfetas, como elas são, o que fazem para encantar homens mais velhos, porque são diferentes de outras meninas, etc, etc... Neste começo já conseguimos ver a loucura em que Humbert vive, ao acreditar que, realmente, meninas de 11 a 14 anos (a faixa etária das “ninfetas”) queiram seduzir homens mais velhos. Deixarei algo bem claro aqui, meninas de 11 a 14 anos são MENINAS, nada mais que isso. Continuarei a contar sobre o livro e, após, voltarei neste assunto.

Enfim, Humbert Humbert após seu longo ensaio sobre ninfetas (MENINAS), relata sobre como conhece Lolita. Ele havia acabado de se mudar para os Estados Unidos e precisava de um lugar para ficar, conhece a casa da mãe de Dolores, e descobre que ela está alugando um quarto. Quando vai para conhecer a casa, ele a acha meio sem graça até que, no meio do jardim, se depara com o motivo de seus sonhos nojentos, a menina Dolores, que acabara de completar 12 anos. Morena, baixa, com dentes um pouco tortos, magra e sorridente, como qualquer outra menina de 12 anos. Entretanto, o que ele vê nela é a sedução de uma mulher. O fogo de uma adulta. Ele vê uma ninfeta.

E, por causa de Dolores, ele decide alugar o quarto daquela casa. Seu plano asqueroso, era fazer com que a mãe de Dolores se apaixonasse por ele, para que assim, ele possa ficar mais tempo com a menina. O que de fato acontece, a mãe de Dolores se apaixona cegamente por ele e, aos poucos, ele vai se aproximando e ganhando confiança da mãe e da menina. A primeira vez que ele a estupra é na própria sala de casa, quando a mãe de Dolores sai por poucos minutos, Nabokov descreve a cena com tamanha beleza e sutileza que você pode esquecer-se que se trata de uma menina de 12 anos, que se trata de um estupro.

Logo após, os meses vão passando, a mãe de Dolores quer colocá-la em um internato, o que não agrada nem um pouco Humbert. Após uma infelicidade, a mãe de Dolores morre e ela acaba na guarda do seu abusador-padrasto, o qual a carrega para uma viagem Estados Unidos adentro, com paradas em muitas cidades americanas.

Dolores, diversas vezes, tenta fugir de Humbert, tenta enganá-lo, sem muito sucesso. Ele era tão fissurado por, finalmente, ter uma ninfeta só para ele que fazia de tudo para não desagradá-la, para que ela não fugisse. Deixando claro que a estuprava todos os dias, no mínimo.

Não abordarei aqui muito sobre a história, acredito que todos sabem seu enredo e sobre o que se trata, abordarei aqui outro ponto que costuma fugir quando o assunto é essa história. O que me faz quase chorar todas as vezes que alguém diz que Lolita é “a história de amor mais convincente do século”, “uma bela história de amor” e etc...



MENINAS de 11 a 14 anos são MENINAS e explicarei aqui sobre na MINHA visão dessa história. Um exemplo, imagine se você fosse moça, dos 11 aos 14 ou menos, e fosse apaixonada por um homem mais velho, sendo um ator, um cantor, ou outro; eu, no meu caso, era apaixonada pelo Robert Pattinson (sim, bem Crepúsuclo-fã). Eu o amava, dizia que se o visse na minha frente faria de tudo pra ficar com ele, mas não, eu não o faria, pois eu era uma menina, e não via o amor como um adulto vê. Eu via o amor como dar beijos e andar de mãos-dadas, por mais que eu soubesse o que era sexo, não era dessa forma que eu amava minha paixão platônica, era um amor bobo. O mesmo que acredito que Dolores sentia por Humbert no começo do livro, se considerarmos que neste ponto, antes do primeiro abuso, o personagem não havia mentido quando disse ter encontrado pôsters, desenhos, nos quais ela escrevia um "H.H" e um coração - vêem o amor bobo?

Agora, vamos lá, e mesmo que Dolores REALMENTE sentisse amor carnal-sexual por Humbert - o que não acredito, mas poderia ser real - mesmo que isso fosse VERDADE, Humbert, como o ADULTO da situação, mesmo que sentisse qualquer prazer pedófilo sobre Dolores, NÃO deveria ficar com ela por entender que ela é uma CRIANÇA. Um homem ADULTO de 54 anos entende do mundo, sabe e compreende as consequências de seus atos, entende seus sentimentos, sabe o que é certo e errado; uma MENINA de 12 anos NÃO. Portanto, repetirei aqui, mesmo que Dolores sentisse um real desejo sexual por Humbert, mesmo que ela se jogasse aos seus pés, mesmo que ela tentasse beijá-lo a força, ele não poderia ficar com uma criança, pois isto é PEDOFILIA. Se isso tudo realmente fosse verdade (ignoremos que o personagem mente), Humbert em NENHUMA circunstância, poderia ficar com Dolores pois ela, por ser uma menina, não tem noção sobre seus sentimentos, sobre a consequência de seus atos ou sobre qualquer outra coisa, ela era, antes de tudo, uma CRIANÇA.

E, considerando agora a verdade que eu enxergo no livro, que MUITO que está ali é invenção de Humbert para se safar da cadeia, não acredito que Dolores, realmente, tivesse o amado. Em pequenos trechos, quando ele revela que ela está irritada, ou quando revela que ela tentou fugir, ou quando diz que forçou ter relações sexuais, fica claro o fato que, mesmo que se ela quisesse da forma que escrevi no parágrafo anterior, em QUALQUER circunstância, sexo com uma menina de 12 anos é PEDOFILIA e ABUSO SEXUAL. Humbert Humbert ESTUPRAVA Dolores, ele estuprou e abusou dela fisica e psicologicamente por ANOS. Estupro não é amor, abuso não é amor, pedofilia não é amor, agressão não é amor. Então, finalizo este parágrafo deixando claro, de um vez por todas, caso ainda haja dúvidas. Para os que insistem em dizer, eu grito com toda força:


LOLITA NÃO É UMA HISTÓRIA DE AMOR.


Inclusive, há partes do livro, em que Humbert fala, claramente, sobre ser um estuprador, como a relação entre ele e Lô não era saudável, no final, ele deixa de forma clara como não é correto tudo o que aconteceu entre ambos. Ele sabe do seu crime, ele admite ser um abusador, ele vê seus erros. Uma das coisas que mais me deixou enojada na leitura foi seu plano, asqueroso, de querer casar com Lô e ter filhas com ela para poder abusar de suas filhas e netas.

Tá bom pra vocês que fazem músicas sobre Lolita, filmes sobre Lolita como história de amor, vídeos, pornôs e sei lá mais o quê abordando Lolita? "Lolita" é sobre uma menina abusada, diariamente, por seu padrasto pedófilo.


Aliás, sobre os filmes, deixo claro aqui que não os vi, e nem pretendo. Pois sei que abordam essa como se fosse uma linda história de amor, um grande desserviço. Inclusive, um grande erro pra mim, no último filme, foi o fato da Lolita ser atuada por uma moça de 17 anos. Compare uma menina de 12 anos e uma de 17 e você verá uma NÍTIDA diferença entre seus corpos, esta, na minha opinião, foi uma forma que os diretores acharam para tentar não deixar a história bizarra da forma que ela realmente é.

Além disso, gostaria de fazer um adendo aqui sobre série e livros que se parecem com "Lolita". "Presença de Anita", famosa série da Globo que antes era um livro (com lançamento anterior à Lolita, inclusive), trata de uma história parecida, porém é vista como uma série excelente, e muitos ignoram todos os problemas no amor de Anita e seu Humbert, por Anita já ter 17 anos (e 18 na série, espertinha ein, Globo). Anita permanece sendo uma menor de idade e mesmo que ela tivesse os tais 18 anos, qual a diferença que vocês vêem entre a menina de 17 anos e 11 meses e a “mulher” de 18 anos? Com 18 anos, apesar de você já ser maior de idade, você ainda não tem total consciência de seus atos, como abordado na série. É absurdo que a nação brasileira aplauda e ache lindo um “amor” entre uma menina de 18 anos e um homem aos 50.

Outra série, também da Globo, muito parecida com "Lolita", é "Verdades Secretas". Pode perguntar pra quem quiser na rua, todos adoram essa série, queriam que fosse reprisada, não perdiam um capítulo. Não sei que tanto fogo e amor as pessoas veem na história de Angel e seu Humbert. Outra história de uma menina de 16 anos, abusada por um homem muito mais velho que, assim como Humbert, casa com sua mãe para ficar com ela. Angel, assim como Dolores, assim como Anita, era apenas uma MENINA de 12, 16 e 17 anos, as três se relacionaram com homens de mais de 50 anos, uma diferença de mais de 35 anos entre todas (no mínimo). Em que mundo um “relacionamento” deste tipo pode ser chamado de “amor”, pode virar “ship”, letra de músicas amorosas, pornôs, e tantas coisas mais?

O que quero deixar claro aqui, uma moça de 18 anos que seja, não tem a mesma cabeça, não viveu as mesmas coisas, não tem maturidade nem conhecimento de mundo que possa ser relacionável com um adulto já formado de mais de 50 anos, com idade para ser seu pai, são vidas diferentes. Histórias de amor puro e verdadeiro como essas podem ser reais e sem abuso? Sim, não boto minha mão no fogo por nada, mas essa não é a regra, é a exceção. Romantizar essas histórias como se, em regra, fossem histórias sem abuso, é um absurdo. Aliás, as 3 histórias, de Lolita, Anita e Angel, tem finais infelizes.


Finalizo o texto afirmando que, ao meu ver, tais histórias, da forma que são abordadas, são apenas um desserviço para a população, naturalizam a pedofilia e o abuso sexual. Leia "Lolita", tire suas conclusões.

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